No início de julho de 2025, um caso revoltante veio à tona em Araucária, região metropolitana de Curitiba (PR). Uma professora de uma escola particular de educação infantil foi presa em flagrante por manter um aluno de 4 anos, autista e não verbal, amarrado em uma cadeira dentro do banheiro da instituição.
A criança, diagnosticada com TEA nível 3, foi encontrada pela Guarda Municipal com os pulsos e a cintura amarrados. A denúncia partiu da própria família, que já suspeitava de maus-tratos após perceber comportamentos regressivos e marcas físicas no filho.
Após a repercussão, outros pais relataram casos semelhantes: uma menina de 3 anos foi fotografada dormindo amarrada com fita adesiva a uma cadeira, e alunos relatavam “castigos silenciosos” impostos por educadoras. O caso está sendo investigado e a escola foi notificada pelo Ministério Público e Conselho Tutelar.
Por que esse caso é tão grave?
Mais do que um ato isolado de abuso, esse caso evidencia:
- Violência institucional travestida de “disciplina”;
- Ausência de formação adequada sobre autismo e neurodiversidade;
- Falta de protocolos internos de acolhimento e contenção segura;
- Ambientes educacionais que ainda não compreenderam o que é inclusão de fato.
A violência não está apenas na corda que amarrou o corpo da criança. Ela está na negligência, na desinformação e na crença de que a diferença precisa ser “controlada”.
O que um psicopedagogo vê nesse cenário?
O caso é simbólico e extremamente útil para refletirmos sobre a urgência de uma educação ética, inclusiva e humanizada desde a primeira infância.
Veja os aprendizados (e alertas) que ele traz:
1. Inclusão sem preparo é risco
Não basta aceitar uma matrícula de uma criança com TEA. É preciso saber como acolhê-la, entendê-la e criar estratégias de ensino e manejo adequadas ao seu perfil.
2. Castigos físicos e contenções inapropriadas são inadmissíveis
Toda e qualquer forma de contenção deve seguir critérios técnicos, legais e éticos, e só ser usada em contextos terapêuticos bem acompanhados. Na escola, a contenção física como “correção de comportamento” é uma violação grave dos direitos da criança.
3. Faltam protocolos e formação continuada
Muitas instituições privadas de educação infantil não oferecem capacitação mínima para lidar com alunos neurodivergentes. O resultado é um ambiente onde o “normal” é exigido como padrão, e o diferente é visto como problema.
O que pode ser feito para evitar novas tragédias?
Psicopedagogos, gestores, professores e terapeutas precisam atuar juntos em três frentes:
- Formação docente obrigatória sobre TEA, TDAH e outros transtornos do neurodesenvolvimento
- Implementação de protocolos institucionais claros sobre acolhimento, contenção, acompanhamento e denúncia
- Acompanhamento psicopedagógico contínuo, com escuta ativa às crianças e orientação regular às famílias
Além disso, é fundamental que profissionais denunciem práticas antiéticas, mesmo que veladas, dentro das instituições onde atuam. O silêncio também é cumplicidade.
O que esse caso revela para a sociedade?
Esse episódio evidencia a invisibilidade das crianças neurodivergentes, especialmente aquelas que ainda não falam ou que não sabem nomear abusos.
É também um alerta para os pais: acompanhar de perto o comportamento da criança, observar mudanças sutis e confiar na intuição parental são atitudes de proteção.
E para os profissionais, o recado é direto: não é possível atuar com infância neurodiversa sem empatia, sem formação e sem ética.
Conclusão: quem cuida, não amarra
A missão da educação infantil é proteger, estimular e nutrir o desenvolvimento — nunca conter, punir ou reprimir o que é apenas diferente.
Para o psicopedagogo, esse caso é um chamado urgente para reforçar a escuta ética, orientar equipes escolares e garantir que nenhuma criança seja silenciada ou subjugada por sua neurodivergência.
Referência de apoio
Cobertura completa: CNN Brasil – Professora é presa após amarrar criança autista em banheiro
Apoio legal: [Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Art. 232]
👉 No próximo artigo da série: vamos entrar nos eventos profissionais do mês — como o Congresso Brasileiro de Psicopedagogia e o Congresso Aprender Criança 2025, que movimentaram a formação e atualização de milhares de educadores e terapeutas.